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quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Riqueza Espiritual do Islamismo Esotérico



O primeiro volume intitulado “

Desde os Primórdios até a Morte dos Averroes(1198),

da importante publicação em três volumes da “

História da Filosofia Islâmica”,

surgiu em 1964. Foi publicado em inglês em 1993 como a “

History of Islamic

Philosophy

”. A trilogia foi escrita pelo Professor Henry Corbin, que era diretor

dos estudos islâmicos da Universidade de Sorbonne em Paris, e que também lecionava todos
os anos na Universidade de Teerã. Este livro é um testemunho vivo de alguém que compreendeu
plenamente o significado mais elevado das correntes iniciáticas, teosóficas e místicas
do Islamismo. Mesmo nos dias de hoje, provavelmente não existe introdução melhor a uma
compreensão séria desses assuntos.
por SERGE HUTIN, FRC*
V
Meu objetivo não é tentar apresentar um
resumo adequado, mas brando do magnífico
panorama espiritual que Corbin nos oferece,
mas extrair dele alguns elementos que podem
nos tornar plenamente conscientes da imensa
riqueza espiritual, ainda tão displicentemente
não reconhecida no ocidente, do esoterismo
islâmico em suas formas tradicionais.
O Significado
Secreto do Corão
O Islamismo é uma religião que depende
totalmente de um livro inspirado, o
Corão. A
religião Muçulmana de fato forma o terceiro
– e último revelado – ramo do que pode ser
chamada de tradição Abraâmica: Judaísmo,
Cristandade e Islamismo são todas “religiões
do bloco” da mesma revelação monoteísta.
Como a
Bíblia, o Corão está sujeito a dois
tipos de investigações, ambos totalmente
genuínos. Podemos ver nele “
as regras de viver
neste mundo e o guia para além deste mundo
”.
Por um lado, existem as interpretações literais
e, por outro, a exegese esotérica. O problema
do “
verdadeiro significado” do trabalho
sagrado ditado ao Profeta Maomé não poderia
de fato surgir para os iniciados do Islamismo
que são totalmente leais às suas convicções
espirituais e práticas religiosas, enquanto,
ao mesmo tempo, reconhecem a existência
real de homens inspirados fora de seu caminho
tradicional. Por outro lado, esta tolerância
ativa é manifestada, por um lado, no reconhecimento
significativo do fato de que o
conhecimento mais elevado de pensadores da
antiga Grécia também veio do “nicho das
luzes da profecia” e, por outro, na ausência
entre os iniciados Muçulmanos de qualquer
desconfiança com relação aos sinceros representantes
da árvore Abraâmica assim como
de outros caminhos. Esta forma extrema de
tolerância resulta até na admissão de Cristãos
e Hindus entre seus estudantes por parte de
alguns Mestres Sufis no Irã e no Paquistão.
Mas, para chegar ao exato problema das
exegeses esotéricas do Corão, Corbin declara
o princípio bem claramente: “
Indicar como
meta a obtenção do significado espiritual implica
que existe um significado que não é o significado
espiritual, e que entre este e aquele que não
existe, existe talvez uma gradação, levando à
pluralidade de significados espirituais
.”
E ele cita – muitas páginas adiante – uma
declaração notável do 6º Imam (Guia) dos
Xiitas, Jafar as-Sadiq (702 – 765 d.C.): “
O
Livro de Deus se constitui de quatro coisas.
Existe o mundo revelado; existe a compreensão
alegórica; existem os significados encobertos
relacionados ao mundo oculto; existem as
doutrinas espirituais mais elevadas. A palavra
literal é para os mortais comuns. A compreensão
alegórica pertence aos Amigos de Deus. As
doutrinas espirituais mais elevadas pertencem
aos profetas
”.
Esta passagem pode ser interpretada da
seguinte forma: “
A palavra literal é para ser
ouvida; a alegoria é para a compreensão espiritual;
os significados ocultos são para a visão
contemplativa; as doutrinas mais elevadas
dizem respeito à realização do todo do Islamismo
espiritual
”.
Por que o esoterismo é necessário? A
razão é óbvia. O grande místico sufi persa Al
Hallaj (858-922 d.C) não se preocupava com
relação a revelar sua grande iluminação
publicamente para o profano nas ruas de
Bagdá. Muitos mestres sufis consideravam
que não era apropriado partilhar o misticismo
com as massas e isso resultou na
execução dele onze anos depois. Não apenas
os crentes profanos e comuns entre eles, mas
até mesmo os mais devotados não conseguem
compreender as verdades secretas, mas
eles se arriscam a fazer com que os iniciados
pareçam ímpios e sacrílegos que desprezam
as crenças e práticas da religião exotérica;
que foi o que aconteceu com o Al-Hallaj.
A citação anterior nos permite compreender
a existência não apenas de um significado
esotérico do Corão, mas de vários
significados hierárquicos, correspondendo

aos estágios progressivos do iniciado na

direção da iluminação suprema. A diferenciação

dos significados no Corão é parte

integrante na hierarquia espiritual necessária

dentro da humanidade. Existem três categorias:

1.
O profano comum;

2.
Aqueles que têm o potencial de se

tornar possíveis iniciados (daí a

necessidade de os iniciados

entrarem em contato com eles);

3.
Os iniciados que estão em si

divididos em vários graus de

acordo com seu grau de avanço

pessoal no caminho.

A Hierarquia

Iniciática

As iniciações tradicionais muçulmanas são

geralmente desconhecidas quando não

distorcidas de uma forma grotesca, como

demonstrado em relatos suspeitos que ainda

circulam sobre o assunto. Na Europa, ouvimos

histórias confusas sobre os dervixes, os

Ismailis (pelo fato de Aga Khan, que é mais

ou menos como se fosse seu “papa”, ser uma

das personalidades de que a mídia mundial

fala de bom grado) e os “Assassinos”, os

seguidores de Hassan-e Sabbah, o “Velho da

Montanha” e amigo do cientista e poeta

Omar Khayyam, que acabaram sendo destruídos

pelos Mongóis quando arrasaram a

impressionante fortaleza de Alamut.

Corbin corrige todas as ideias claramente

simplistas sobre esses assuntos. Particularmente,

faz justiça a todas as histórias

negras (como um romance gótico) divulgadas

sobre os “Assassinos” por seus inimigos

em primeiro lugar, e depois por gerações de

autonomeados “historiadores” ocidentais

especializados em sociedades secretas. Sobre

o Sufismo, os livros de Corbin levantam

essa questão bem claramente. O que são os

Sufis? Trata-se de muçulmanos místicos que

se reúnem em comunidades iniciáticas,

muitas vezes de uma forma mais ou menos

monástica, e que se agrupam em várias

Ordens Dervis.

A característica do Sufismo tradicional é

sempre se desenvolver em uma hierarquia

iniciática. Para nos restringirmos ao passado,

vamos tomar como exemplo a sociedade

secreta dos Ikhwan as-Safa ou “Irmãos da

Pureza”, que tinham seu centro em Basra, no

Iraque, durante a ascensão do Califado de

Abbasid. Eles escreveram 52 tratados sobre

matemática, ciências naturais, psicologia e

teologia. Seus iniciados se dividiam em

quatro graus, que correspondiam às aptidões

espirituais que se desenvolviam com a idade,

com iniciação possível apenas após os 40

anos. Aos 40 anos de idade, os membros

começavam sua progressão para a iluminação.

Aos 50, eles poderiam mesmo estar

prontos para perceber diretamente a luz

espiritual na totalidade das coisas, no coração

microcósmico da humanidade como no

Grande Livro da Natureza. Evidentemente,

as idades de 40 e 50 anos pretendem caracterizar

a maturidade iniciática e não devem

ser confundidas com o tempo temporal da

sociedade civil. A idade de 40 ou 50 anos (33

é também frequentemente citado na tradição

Cristã) é a idade em que os iniciados estão

finalmente prontos, como Dante, para

receber a grande iluminação, que poderia, de

acordo com o real avanço do peregrino no

caminho, se manifestar antes ou depois da

maturidade física.

No trabalho de Corbin, encontramos

capítulos detalhados sobre uma área até

menos conhecida pelos europeus do que o

Sufismo, a do Xiismo, de que os Ismailis são

um dos dois grandes ramos históricos. O

fenômeno Xiita coloca-se totalmente dentro

das perspectivas de uma busca perseverante e

ardente, no verdadeiro sentido esotérico, do

caminho realmente espiritual do todo da

Revelação Islâmica e, consequentemente, da

História Islâmica. Mas esse esoterismo que

se desenvolveu depois do Profeta é mais

especialmente baseado no problema da

autoridade suprema tanto temporal quanto

espiritual do Islã. Portanto, o Xiismo se

baseia na crença no Imamato, isto é, em

indivíduos considerados como “Guias”

(Imam significa “guia”) para toda a extensão

da história desde a morte de Maomé (considerado

como sendo o “
Selo dos Profetas”,

terminando o período dos profetas) até o fim

do ciclo terreno de manifestação.

A concepção histórica do Xiismo, portanto,

remonta à época do próprio Maomé.

Os Xiitas foram, desde o início, aqueles que,

ao contrário dos Sunitas (Muçulmanos que

queriam manter a rigorosa observância do

que é chamado de Código Sunnan das

tradições orais que complementam o Corão),

queriam colocar o Islã sob a governância

suprema de um Imam manifestado na pessoa

santa de Ali, primo e genro do Profeta

através de sua filha Fátima. O Imamato teria

que permanecer sempre entre os descendentes

de Ali após sua morte.

Enquanto os “Dozeiros” Xiitas reconhecem

– como indicam seus nomes – doze

imans sucessivos começando por Ali, os

Ismailis reconhecem apenas sete. O contraste

verdadeiro é de fato apenas aparente,

pois as implicações esotéricas correspondem

e aparecem como complementares. Corbin

nos leva à seguinte observação: “
Enquanto a

imamologia dos Dozeiros simbolicamente

corresponde às doze constelações do Zodíaco

(como as doze fontes que jorram da rocha

atingida pelo cajado de Moisés), a imamologia

dos “setenários” do Ismailianismo simboliza os

Sete Céus Planetários e suas estrelas móveis
”.

Até mesmo a ideia de governo iniciático

secreto por debaixo dos panos da história

visível é totalmente tradicional em muitas

formas de esoterismo. No Sufismo Suni

encontramos, sob uma forma diferente

daquela dos Xiitas, a ideia de uma hierarquia

esotérica na qual o Qutb (o pólo ou eixo

místico) é o ápice. Neste caso, deveríamos

lembrar que tradições desse tipo atuam em

vários níveis no domínio histórico assim

como na iniciação pessoal. Também não se

deve esquecer que os iniciadores humanos

ainda têm como missão e papel permitir que

o iniciado entre gradativamente em contato

com “a entidade espiritual”, com o “Anjo da

Filosofia” (um termo amplamente usado no

esoterismo xiita), e com seu guia pessoal, o

“Mestre Interno”, que aparece apenas quando

o estudante está pronto. Isto então explica a

maneira pela qual os documentos esotéricos

são simultaneamente colocados sob um ponto

de vista que Corbin chama de “meta-história”

e no nível do mundo visível neste plano. Isto

fica óbvio no problema central da sucessão

dos Grandes Emissários no plano terreno.

Com relação a isso, Corbin cita um

texto maravilhoso do poeta e filósofo

Ismailiano persa Nasir-e Khusraw (1004-

1088 d.C): “
Religião positiva é o aspecto

exotérico da ideia, e a ideia é o aspecto esotérico

da religião positiva. A religião positiva é o

símbolo; a ideia é o simbolizado. O exotérico

está em fluxo perpétuo com os ciclos e os períodos

do mundo; o esotérico é uma energia divina

que não está sujeita a tornar-se
”.

No decorrer dos acontecimentos neste

mundo, o determinismo invisível sempre

aparece através de uma forma visível. Isso é

essencial na verdadeira compreensão da ideia

tradicional dos ciclos da história. Acontecimentos

terrenos só podem ser explicados

em relação à “
um drama no Céu”; na verdade,

eles preparam o fim. No esoterismo islâmico,

assim como nas perspectivas mais bem

conhecidas na Europa do Apocalipse

Cristão, o problema dos “últimos dias”

desempenha um papel determinante.

No Xiismo, eles falam sobre o 12º ou

último Imam, o “Imam do Tempo”, o Imam

oculto dos sentidos, mas presente no coração”.

Desaparecido deste plano, “o Imam oculto” é,

no entanto, acessível aos iniciados, gradativamente

se tornando seu guia invisível

pessoal, seu mestre interno. Até a hora do

Milênio, o “Imam escondido” permanece

apenas visível em sonhos ou

em manifestações pessoais

que têm uma característica

“visionária”. Mas, quando o

ciclo presente chegar a um

fim, o último Imam, o Mestre

Interno dos Xiitas, vai se

tornar manifesto no plano

terreno. É ele que vai presidir

a Aurora Dourada, o advento

da Nova Era. No final do

presente ciclo então, o Mahdi,

o “Imam oculto” que vive

escondido desde 872, vai

proporcionar revelação total e

realização suprema.

A Iluminação

As formas iniciáticas que surgiram no

Islamismo pretendiam – como todos os

caminhos semelhantes, baseados ou não numa

religião exotérica – capacitar a luz interna a

se irradiar de dentro. No Sufismo, portanto,

encontramos exercícios que têm como

objetivo internalizar a revelação Islâmica.

Na busca da plena iluminação, o iniciado

vai reviver a experiência que teve o

próprio Profeta, especialmente no tempo de

seu Mi’raj – ou ascensão – uma experiência

durante a qual Maomé, depois de ter sido

transportado em espírito a Jerusalém, se

elevou pelos sete céus até o trono de Alá.

Da mesma forma, os místicos Sufis tentam

compreender o Corão internamente de

alguma forma, tentando encontrar, através

de uma pronúncia correta dos Suras Corânicos,

o mistério da “
Enunciação do Livro

Santo
” original.

Em última análise, a exegese do Corão

vai se alicerçar no paralelo entre as vicissitudes

da história e as formas nas quais a

alma atinge a iluminação libertadora. Por

exemplo, o maravilhoso exemplo, no Sura 95

(at-Tin), da oliveira que cresce no Monte

Sinai é interpretado da seguinte forma por

um autor Ismaili anônimo: “
Este Sura

significa que o peregrino místico percebe que sua

própria personalidade, da mesma forma que o

fez Moisés, nada mais é do que o “Sinai”, o

santuário interno onde a Forma teofânica pode

brilhar… a Luz Divina.

Ser capaz de contemplar “na Alma da

alma” e ser capaz de irradiar a Luz Divina

dentro de nosso coração, este é o objetivo

que o peregrino místico enfoca e vai alcançar

quando a iluminação tiver finalmente

desabrochado nele. Eis uma citação do

grande Sufi Persa Abu Yazid Bastami (804-

874 d.C.), que desempenhou um papel

importante na solidificação do conceito de

amor divino no cerne do Sufismo:
“Quando

finalmente eu contemplei a verdade através da

verdade, eu vivi a verdade através da verdade e

existi na verdade pela verdade em um presente

eterno, sem fôlego, sem palavras, sem audição,

sem conhecimento, até que Deus tivesse transmitido

a mim um conhecimento impulsionado por

Seu conhecimento, uma linguagem transmitida

de Sua Graça, um olhar moldado em Sua Luz”.

Irradiar uma Luz Divina dentro de nós e

nos perdermos nela, eis o que vem a ser a

Grande Iluminação. Eis mais uma passagem

do místico persa al-Ghazali (1058-1111

d.C.) que o professor Corbin cita: “
a mari-
posa que se tornou amante da chama tem a luz

dessa aura como alimento desde que permaneça

a uma certa distância dela. É o presságio desta

iluminação que amanhece que ao mesmo tempo

a chama e lhe dá as boas-vindas. Mas ela

precisa continuar voando até que ela a apanha.

Quando a alcançou, não cabe mais a ela ir em

direção à luz. A chama não é mais seu alimento,

mas ela é o alimento da chama. E é aí que está o

grande mistério. Num momento uma fugitiva,

ela então se torna seu próprio amor, já que ela é

a chama. E isso é perfeição”.

E é aqui que encontramos o objetivo de

todo treinamento iniciático. Sohravardi (ou

Suhrawardi, em árabe), um grande filósofo

persa (1155-1191 d.C.), demonstra ser um

autêntico iniciado quando nos conta que a

alma humana deve rasgar-se para longe das

trevas de seu “exílio ocidental”, ou seja, do

mundo da matéria sublunar, para avançar na

“direção do oriente”, de onde vem a Luz.

Pelo simples ato de serem conscientes de si

mesmo, os seres de luz vão se fazer presentes

uns para os outros – e, observe bem isso –

experimentando um dos privilégios do estado

de Rosacruz, no exato sentido do termo.

A Alquimia

Nas terras islâmicas, a alquimia prosperou.

Para citar apenas um nome, o do ilustre Jabir

ibn Hayyan (Geber no ocidente), discípulo

do 6º Imam Ja’far as-Sadiq, a quem se

atribui a definição do Hermetismo como “a

ciência do equilíbrio”.

É uma questão, de fato, de se encontrar a

relação que existe em cada corpo do manifestado

e do oculto. Essas operações se

aplicam ao material assim como ao espiritual,

como Corbin nos destaca com toda propriedade:

É a transmutação da alma voltando a si

mesma que vai afetar a transmutação do corpo.

A alma é exatamente o local dessa transformação
”.

A alquimia, com seus segredos maravilhosos

de total transformação humana era,

sem dúvida, conhecida por muitos iniciados

muçulmanos, tanto dentro do Xiismo quanto

dentro das Ordens Sufis. O hermetismo

islâmico provou ser um dos ramos importantes

da filiação alquímica tradicional.

Henry Corbin conseguiu mostrar claramente

em seu notável trabalho “
Corps

spirituel et Terre Celeste”
(Corpo Espiritual e

Terra Celestial
) que é impossível compreender

qualquer coisa das operações alquímicas

sem vê-las como marcando os estágios de

um caminho iniciático, a peregrinação

espiritual na direção da redescoberta do

Divino dentro de si. É apenas dessa forma

que é possível compreender o sentido exato

deste ensinamento do Imam Ja’far: “
A forma

humana é a maior evidência pela qual Deus

confirma Sua Criação. É o livro que ele escreveu

com Sua própria mão. É o templo que Ele

construiu através de Sua sabedoria. É a reunião

de todos os universos
”.

É também bastante explícita a seguinte

declaração do 6º Imam dos Xiitas: “
A luz do

Imam no coração dos crentes é mais brilhante do

que o Sol, que espalha sua luz
”. E a regra de

ouro de todo treinamento iniciático e de

toda disciplina esotérica se encontra no dizer

deste Ismaili: “
Aquele que conhece a si mesmo,

conhece seu Senhor
”.

Com relação ao contato entre iniciados

muçulmanos e cristãos, isso mereceria

algumas páginas. Vamos nos contentar em

lembrar os contatos, sem dúvida estabelecidos,

entre os Cavaleiros Templários e os

muçulmanos que formavam os assim chamados

“Assassinos”. Não só todas as tradições

esotéricas se encontram no ápice, mas

seus relacionamentos neste plano também

são uma realidade incontestável.

“O sinal do amor de Deus é outorgar três

atributos àquele que O ama: uma generosidade

como a do Mar, uma bondade como a do

Sol e uma humildade como a da Terra”.

ABU YAZID BASTAMI Z

* Publicado no “Rosicrucian Beacon” de

março de 2009

A mariposa que se tornou amante da chama tem a luz
dessa aura como alimento desde que permaneça
a uma certa distância dela. É o presságio desta
iluminação que amanhece que ao mesmo tempo
a chama e lhe dá as boas-vindas. Mas ela
precisa continuar voando até que ela a apanha.
Quando a alcançou, não cabe mais a ela ir em
direção à luz. A chama não é mais seu alimento,
mas ela é o alimento da chama. E é aí que está o
grande mistério. Num momento uma fugitiva,
ela então se torna seu próprio amor, já que ela é
a chama. E isso é perfeição”.
E é aqui que encontramos o objetivo de
todo treinamento iniciático. Sohravardi (ou
Suhrawardi, em árabe), um grande filósofo
persa (1155-1191 d.C.), demonstra ser um
autêntico iniciado quando nos conta que a
alma humana deve rasgar-se para longe das
trevas de seu “exílio ocidental”, ou seja, do
mundo da matéria sublunar, para avançar na
“direção do oriente”, de onde vem a Luz.
Pelo simples ato de serem conscientes de si
mesmo, os seres de luz vão se fazer presentes
uns para os outros – e, observe bem isso –
experimentando um dos privilégios do estado
de Rosacruz, no exato sentido do termo.
A Alquimia
Nas terras islâmicas, a alquimia prosperou.
Para citar apenas um nome, o do ilustre Jabir
ibn Hayyan (Geber no ocidente), discípulo
do 6º Imam Ja’far as-Sadiq, a quem se
atribui a definição do Hermetismo como “a
ciência do equilíbrio”.
É uma questão, de fato, de se encontrar a
relação que existe em cada corpo do manifestado
e do oculto. Essas operações se
aplicam ao material assim como ao espiritual,
como Corbin nos destaca com toda propriedade:
É a transmutação da alma voltando a si
mesma que vai afetar a transmutação do corpo.
A alma é exatamente o local dessa transformação
”.
A alquimia, com seus segredos maravilhosos
de total transformação humana era,
sem dúvida, conhecida por muitos iniciados
muçulmanos, tanto dentro do Xiismo quanto
dentro das Ordens Sufis. O hermetismo
islâmico provou ser um dos ramos importantes
da filiação alquímica tradicional.
Henry Corbin conseguiu mostrar claramente
em seu notável trabalho “
Corps
spirituel et Terre Celeste”
(Corpo Espiritual e
Terra Celestial
) que é impossível compreender
qualquer coisa das operações alquímicas
sem vê-las como marcando os estágios de
um caminho iniciático, a peregrinação
espiritual na direção da redescoberta do
Divino dentro de si. É apenas dessa forma
que é possível compreender o sentido exato
deste ensinamento do Imam Ja’far: “
A forma
humana é a maior evidência pela qual Deus
confirma Sua Criação. É o livro que ele escreveu
com Sua própria mão. É o templo que Ele
construiu através de Sua sabedoria. É a reunião
de todos os universos
”.
É também bastante explícita a seguinte
declaração do 6º Imam dos Xiitas: “
A luz do
Imam no coração dos crentes é mais brilhante do
que o Sol, que espalha sua luz
”. E a regra de
ouro de todo treinamento iniciático e de
toda disciplina esotérica se encontra no dizer
deste Ismaili: “
Aquele que conhece a si mesmo,
conhece seu Senhor
”.
Com relação ao contato entre iniciados
muçulmanos e cristãos, isso mereceria
algumas páginas. Vamos nos contentar em
lembrar os contatos, sem dúvida estabelecidos,
entre os Cavaleiros Templários e os
muçulmanos que formavam os assim chamados
“Assassinos”. Não só todas as tradições
esotéricas se encontram no ápice, mas
seus relacionamentos neste plano também
são uma realidade incontestável.
“O sinal do amor de Deus é outorgar três
atributos àquele que O ama: uma generosidade
como a do Mar, uma bondade como a do
Sol e uma humildade como a da Terra”.
ABU YAZID BASTAMI Z
* Publicado no “Rosicrucian Beacon” de
março de 2009
 
                                                                                                                              


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